Certo dia, um professor chamou Ulisses Riedel para dar aula a uma turma de direito. Ao apresentá-lo, o amigo disse: “Dr. Riedel veio ensinar vocês a ganhar dinheiro”. O advogado entrou na sala e admitiu: “É verdade. Ganhei muito dinheiro, mas, como sou voltado para as coisas do bem, gastei tudo”. Entre risos, Riedel se lembra da história como uma passagem curiosa de sua biografia. Mas ela não deixa de ser ilustrativa. Já citado como o maior pagador de impostos do Distrito Federal, quando venceu importantes causas trabalhistas para servidores públicos, o advogado sempre lidou com o dedo alheio apontado para a sua conta bancária. Para cada ação vencida na Justiça – e foram muitas –, sempre havia um bocado de gente para fazer os cálculos de sua comissão. O que poderia causar sérios aborrecimentos, porém, é visto com desdém. Dez entre dez pessoas próximas a ele afirmam que ele nunca ostentou, nem ligou para dinheiro. Ao contrário, investiu — e investe — uma considerável quantia em causas humanitárias. Sai do escritório de sua família, que hoje cuida de 18 mil processos na justiça, a maior parte da renda para custear a União Planetária, uma organização sem fins lucrativos, que acaba de completar 15 anos de existência e emprega 47 pessoas. “A gente ganha o dinheiro para ele poder gastar”, brinca o filho mais velho, Marcos Resende, também advogado. Segundo ele, a família comunga dos ideais do pai. “Nossa família tem uma base espiritualista. Sabemos que se realizar não é só ter patrimônio. Realização não é o que se faz, é o que se vive.” Aos 79 anos, Ulisses Riedel vive de seus ideais. E por eles. No escritório, só participa das decisões mais importantes. Dedica-se integralmente à União Planetária, cuja sede social funciona numa ampla casa no Lago Norte, de visual esplêndido para o lago. Ali, também estão os estúdios, as ilhas de edição e a redação da TV Supren (em ascensão, em esperanto), transmitida via satélite para o Brasil inteiro. Nesse espaço, suprapartidário e ecumênico, recebe de altas autoridades, como Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Ayres Britto, ministro do Supremo Tribunal Federal, a monges budistas. Conversa com os amigos, grava entrevistas e programas, assina convênios e escreve palestras, que depois serão ministradas ao redor do mundo, da Bahia ao Cazaquistão, onde esteve em 2010. Ulisses é um grande orador. Nos tribunais, figurou em audiências históricas. O filho Marcos se lembra de uma em que advogou a favor do Sindicato dos Artistas, no STF, numa questão sobre direitos autorais: “Vários artistas foram ao julgamento. Ele recorreu a uma fábula, da raposa e do galinheiro, e adaptou, dizendo assim: ‘Entre o forte e o fraco, o patrão e o empregado, há a liberdade que escraviza e a lei que liberta’”. É capaz de recitar poemas inteiros e reproduzir o pensamento de Einstein, Pitágoras, Gandhi, Martin Luther King e outros. Ulisses, com a atual mulher, Wanda, e parte da família: ao todo, são sete filhos e mais de duas dezenas de netos e agregados (Luís Tajes/CB/DA Press) Ulisses, com a atual mulher, Wanda, e parte da família: ao todo, são sete filhos e mais de duas dezenas de netos e agregados Todas essas influências, aliadas aos princípios da Sociedade Teosófica, lhe serviram para cunhar as bases da União Planetária, que nasceu depois de seis anos de estudos em grupo sobre política e espiritualidade, do qual fizeram parte políticos como Pedro Simon e Roberto Requião. “O político tem de ser humanista. Se sua visão for só material, tecnicista, ele não será um bom político. E o espiritualista, se ficar apenas rezando e não socorrer quem está precisando, não está em sintonia com seus valores internos”, defende Riedel. Sobre os seus valores internos, não tem dúvidas. É tudo culpa da mãe, Olga. “Eu sou ela”, admite. Nascido em São Vicente (SP), ele cresceu sob a tutela de pais humanistas. “Todos os dias, no jantar, dávamos as mãos e rezávamos pela paz mundial. Minha mãe dizia: ‘Não vamos pedir a Deus para os aliados ganharem a guerra, porque queremos a paz de todos. Quando a guerra acabou, foi uma festa e eu me senti como se eu fosse partícipe da paz mundial.” Também herdou dela a veemente defesa do vegetarianismo. Aos 14 anos, ela saiu para comprar mocotó, viu o sacrifício de um animal e nunca mais colocou um pedaço de carne na boca. Quando conheceu o marido, Benedito Josué de Resende, este vivia encantado com os filófosos Sêneca e Pitágoras, ambos vegetarianos. Dali em diante, já são quatro gerações da família sem comer carne. “Ser vegetariano é não se sentir culpado pela matança de seres vivos. Isso dá outra dimensão de valores éticos.” Ulisses cresceu ouvindo os ecos de um desejo da mãe. “Ela queria que eu fosse um benfeitor. Eu nem entendia o que isso significava, mas cresci com aquilo na cabeça.” Tal concepção o levou para o direito. Até se tornar advogado, foi ator, sócio de teatro, vendedor de livros. Nos tribunais, atuou primeiro como criminalista. Depois, decidiu ser advogado dos trabalhadores. Um de seus primeiros clientes foi um grupo de cavaleiriços do Jóquei Clube do Rio de janeiro, para onde se mudou depois do primeiro casamento. Deu tanto prejuízo ao Jóquei que o presidente do clube tentou contratá-lo. “Não sou advogado de patrão”, encerrou. Começaria ali a história que o tornaria um dos maiores advogados trabalhistas do país – se não o maior. Defendeu jornalistas, rodoviários, petroleiros, metalúrgicos, inclusive o então líder sindical Lula, de quem se tornou amigo. Veio para Brasília em 1971, junto com a mudança do Tribunal Superior do Trabalho (TST). O primeiro escritório funcionava na lavanderia da casa, na 714 Sul. Hoje, ocupa boa parte de um andar no Liberty Mall. Na antessala, os clientes ainda são trabalhadores, em sua imensa maioria, mas atende também outras esferas, como a civil. Na década de 1970, chegou a representar 60 entidades sindicais, sete entre nove confederações de trabalhadores e seu nome constava em 50% dos processos que tramitavam no TST. “Não exatamente porque eu era bom, mas porque não havia outros…” Principalmente, nos anos 1980 e 90, ganhou causas históricas de indenizações para recompor perdas salariais decorrentes de planos econômicos. Muitas vezes, foi chamado por altos escalões de governos local e federal. Nunca trocou de lado. Na década de 1980, percebeu que era mais fácil mudar leis do que confrontá-las. Organizou o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o Diap, para fazer um lobby organizado no Congresso em prol dos trabalhadores. Sua atuação mais importante foi na época da Constituinte. “Ele coordenou toda a bancada para construir a proposta para a ordem social da Constituição de 1998. Deu uma imensa contribuição”, lembra o hoje senador Paulo Paim. O Diap acabou por influenciar nas eleições de 1990, por meio do livro Quem é quem na Constituinte, que atribuía notas aos parlamentares. “Mário Covas chamou a atenção para as notas em um debate. Collor acabou chamando o Itamar Franco, que teve um desempenho bom, para ser vice. Quando foi divulgada a nota zero para o Afif (Domingos), ele, que estava bem na campanha, despencou”, recorda-se Antônio Augusto de Queiroz, que acompanhou toda a trajetória do Diap e hoje é diretor de documentação. Ulisses Riedel chegou a ser senador por alguns dias, era o suplente de Lauro Campos. Mas nunca cogitou entrar para a política partidária. Prefere militar em outras frentes. Com a União Planetária, pretende disseminar uma cultura de paz e trabalhar para eliminar a pobreza. Para isso, gerencia programas de inclusão e de proteção social, como uma fazenda em Alto Paraíso, onde vivem crianças vítimas de violência, entre vários outros projetos. Também não descuida de outra dimensão, a espiritual. “É preciso atuar por dentro e por fora”, sintetiza. É ligado à maçonaria e à Sociedade Teosófica, do qual foi presidente local e nacional. Criou o Instituto Teosófico de Brasília, uma fazenda em Brazlândia, com capacidade para hospedar até 200 pessoas em retiros. O espaço é frequentado por todo tipo de gente, desde pessoas simples a amigos poderosos. Ali, discute-se de religiões à alimentação natural. Pratica-se de meditação a qualquer outra atividade que possa levar à livre investigação da verdade – e isso inclui desde estudos de hinduísmo a Tai Chi Chuan. Trabalhando o espírito das pessoas, quer chegar a um resultado prático: “É preciso criar um entusiasmo pela erradicação da pobreza”. Se é uma meta viável? “Não tenho dúvida”, responde. O que ele pensa que diz “O grande problema da humanidade são os paradigmas equivocados. E não se muda isso com espada, canhão e guerra, nem com críticas, nem com violência, nem com técnicas, nem com a ciência. Você muda paradigmas, mudando valores, num nível além da matéria” “Resolvemos formar uma entidade que devia trabalhar para a paz mundial, a União Planetária, com a ideia de que, um dia, não existirão mais fronteiras entre países, que um dia, em vez de termos fábricas de armas e competição comercial, estaremos todos solidários e juntos… É uma visão diferente de mundo, menos materialista, monetarista, menos voltada para interesses pessoais.” “Podemos até correr o risco de, por ignorância, destruir a raça humana daqui a 100 mil, 200 mil anos. Nós somos pequenos, estreitos, acreditamos na matéria, sem perceber a grandiosidade da dimensão cósmica. Mas acho que o nosso caminho é o da evolução. Como nossa mente é curta, a evolução é lenta.” “Só acredito na luz. Não dá para lutar contra a ignorância. Temos de desenvolver o que está faltando, que é a sabedoria, dissipar a preguiça e a omissão, não tem como lutar contra isso; temos de lutar pela luz, a favor do desenvolvimento, da energia, do entusiasmo. Como lutar contra o desamor, a crueldade? Não se pode bater num cruel, temos de mostrar a ele que o amor é o caminho certo.” “Vontade, sabedoria e amor são os três aspectos fundamentais da manifestação dos seres humanos que precisam ser desenvolvidas na plenitude.” O que dizem sobre ele “Sou muito grata por fazer parte dessa família. Meu avô é um homem de muitas virtudes e de muitos ideiais. Desde pequena absorvi tudo isso. Por ser a primeira neta, tive o privilégio de conviver mais com ele. Temos uma relação próxima e recíproca. Tento dar um suporte no escritório para que ele possa realizar seus sonhos. Ele tem a mente jovem, aberta, e um coração maravilhoso. É desapegado materialmente. É uma pessoa ímpar.” Thais Riedel, neta que comanda hoje o escritório de advocacia da família (na foto, com a filha Melissa, primeira bisneta de Riedel) “Ulisses tem carisma e respeitabilidade social grande. Eu o conheço há 30 anos, desde que eu era sindicalista. Ele coordenou todo o trabalho com a bancada que defendia os interesses dos trabalhadores na Assembleia Nacional Constituinte. Foi fundamental para construir a proposta para a ordem social da Constituição e deu uma contribuição enorme para a política humanitária brasileira.” Paulo Paim, senador “Ele é um humanista em sua dimensão plena. Sempre foi cortês, solícito e educado, mesmo nos embates com os adversários. Não tem inimigos. Era contundente, mas respeitoso. Nunca usou de suas relações em benefício próprio. Sempre reverteu o dinheiro que ganhou para causas ligadas à solidariedade, paz e democracia. ” Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor de documentação do Diap
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